O alerta foi feito pelo diretor-regional interino do Sindicato, jornalista Pedro Coubassier, durante a sua participação no podcast Insenso do canal 102 do Youtube da Band FM, conduzido pelos apresentadores Fábio Duran e Junior Videira.
A entrevista foi realizada na última sexta-feira,10, e também contou com os depoimentos do professor de Tecnologia e Comunicação e do programa de doutorado em Ciência da Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Felipe Parra, e o jornalista Reinaldo Galhardo, diretor de Jornalismo da Agência de Notícias SNEWS Sorocaba.

Desaparecimento no Amazonas
Em um momento no qual a imprensa brasileira e internacional denunciam o desaparecimento, na região amazônica, do jornalista e correspondente do jornal The Guardian, Dom Philips, e do indigenista, Bruno Pereira, o debate em torno da liberdade de imprensa foi a tônica do podcast. https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/geral/audio/2022-06/marinha-e-pf-buscam-jornalista-e-indigenista-da-funai
A polarização política entre as candidaturas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo presidente da República, desde quando tomou posse, estimula a violência e agressões verbais contra jornalistas, foi analisada pelos entrevistados.

O fenômeno das fake news que concorrem com o jornalismo tradicional, baseado em profissionais formados em cursos de nível superior, habilitados para exercer a profissão, também passou pelo crivo da necessidade dos internautas saberem diferenciar como as notícias falsas criam uma “bolha de desinformação”, afetando condutas como aconteceu durante a pandemia da Covid-19.
Nos últimos 2 anos, por exemplo, 54 milhões de pessoas deixaram de tomar o imunizante contra a doença por acreditarem em seus falsos riscos para a vida. https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2022-02/covid-19-54-milhoes-de-brasileiros-ainda-nao-tomaram-dose-de-reforco
Estado de São Paulo, um dos mais violentos, em 2021, para atuação de jornalistas
Esses números, por exemplo, foram apresentados durante a CPI das Fake News, em 2020, trazendo à tona os desafios atuais do jornalismo profissional. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/02/18/quase-7-em-cada-10-pessoas-acreditam-em-informacoes-falsas-sobre-vacina
O Sindicato dos Jornalistas e a Fenaj lançaram, em Abril, o Pacto pelo Fim da Violência em Defesa da Liberdade de Imprensa. O levantamento, reforça Coubassier, mostra que, em 2021, 45 casos de agressão contra jornalistas foram registrados no Estado de São Paulo. “Quase 70% dessas ocorrências estão relacionadas a questões políticos-partidárias”, alerta ele. A íntegra do documento pode ser acessada no link: https://www.sjsp.org.br/fotos/pacto-pelo-fim-da-violencia-contra-jornalistas-e-em-defesa-da-liberdade-de-impre-4c1b6

O caso do jornalista Reinaldo Galhardo integra o relatório da Fenaj e Sindicato quando o profissional foi agredido no dia 1º de Agosto de 2021, durante cobertura do movimento bolsonarista em defesa do voto impresso, uma campanha do presidente Bolsonaro para desacreditar a confiança nas urnas eletrônicas nas eleições deste ano. https://www.abraji.org.br/noticias/jornalista-agredido-em-ato-a-favor-de-bolsonaro-presta-depoimento-em-sorocaba-sp
Mobilização e protesto nacional
Na época, somando-se às outras ocorrências, o Sindicato solidariezou-se com Galhardo, denunciando a agressão e exigindo das autoridades apuração do caso: https://www.sjsp.org.br/noticias/sjsp-lamenta-solidariza-e-age-em-prol-de-jornalista-agredido-durante-cobertura-d-b6c8
Mesmo após o registro do Boletim de Ocorrência os responsáveis pelo ataque não foram identificados até hoje. https://snewssorocaba.com.br/2021/08/05/fenaj-realizara-seminario-violencia-contra-jornalistas/
O portal de Notícias de Sorocaba Porque, mobilizou-se e restituiu o celular de Galhardo por um novo. Na época, o seu jornalista responsável, José Carlos Fineis, protestou contra a agressão e afirmou que “os fascistas não passarão”. https://snewssorocaba.com.br/tag/jornalista-jose-carlos-fineis/
“Estamos em um quadro, desde 2016, muito acentuado porque partidos políticos e facções partidárias e ideológicas estão propagando algo fascista, ou algo inteiramente fascista, que é nós contra eles e vamos quebrar tudo ao nosso inimigo. O inimigo não pode ter nem o direito de falar, pensar e se manifestar e esse não é um quadro democrático. É algo ilegal pela Constituição brasileira”, pondera Coubassier.

O relatório completo da Fenaj e que mostra a evolução da violência contra jornalistas brasileiros, desde 1998, até os dias atuais, pode ser acessado no link: https://fenaj.org.br/relatorios-de-violencia-contra-jornalistas-e-liberdade-de-imprensa-no-brasil/
Voz distorcida nas redes sociais
O professor Felipe Parra é um dos pesquisadores sobre a violência contra jornalistas no Brasil e no mundo e apresentou os seus estudos, em Novembro de 2021, durante um seminário internacional sobre o tema na Universidade de Oslo, na Noruega, citando, inclusive, a ocorrência envolvendo Reinaldo Galhardo.
Parra também é um dos coordenadores, junto com Luciano Victor Barros Maluly – professor titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CJE ECA-USP) do projeto ECA/USP Contra as Fake News. O projeto pode ser conhecido no link: http://www.usp.br/radiojornalismo/index.php/category/eca-usp-contra-as-fake-news/page/2/

Questionamentos e interferências
Entre as perguntas feitas pelos apresentadores Fábio Duran e Júnior Videira estava “o que é informar nos dias de hoje” em tempos de redes sociais que concorrem com o jornalismo. Parra explicou que “a partir do momento que a sociedade começa a adquirir lógicas comunicacionais, a partir do contato com as tecnologias, começa a ter uma descredibilidade nas instituições, sejam governamentais, sejam os meios de comunicação de massa. E o que antes a gente acreditava na verdade e era uma fonte confiável, começa a se questionar. Hoje se dá muita voz e todo mundo tem uma voz”, aprofundou ele em torno dos efeitos das redes sociais. http://www.usp.br/radiojornalismo/index.php/2022/06/11/participacao-de-felipe-parra-no-insenso-podcast-sobre-liberdade-de-imprensa/
Conforme observou, “antes tínhamos o rádio, as emissoras de TV, os jornais, meios de comunicação que tinham poder de penetração na sociedade e, hoje, esse poder de penetração está acessível a todos”. Nesse cenário, influencers, por exemplo, que possuem milhares de seguidores, comparados a uma penetração menor de um veículo de comunicação, e que não possuem compromisso com a verdade e a apuração dos fatos, tornam-se um sério desafio ao trabalho ético e responsável do jornalismo. É essa realidade que preocupa Parra.
Por sua vez, Galhardo relacionou a sua agressão, naquele 1º de Agosto de 2021, porque no dia 25 de Junho o presidente Bolsonaro, visitou Sorocaba pela primeira vez. Ele explicou que a violência que sofreu está relacionada por militantes bolsonaristas não terem gostado das perguntas incômodas que fez ao presidente.

Perguntas difíceis para Bolsonaro
“Cubro visitas presidenciais desde 1987 e esta é a primeira vez que um presidente concede entrevista coletiva à imprensa, liberando o acesso aos seus partidários, o que funciona como uma pressão contra nós. Perguntei se ele continuaria mantendo o vice-presidente Hamilton Mourão na geladeira, devido aos seus atritos e diferenças de posicionamentos políticos. Também perguntei se o Bolsonaro perdesse as eleições, em 2022, ele interpretaria esse resultado como uma vontade de Deus. Isto porque o seu lema, na campanha de 2018, foi Brasil acima de tudo, Deus cima de Todos”.
Segundo Galhardo a realização de seminários para tratar do assunto, como da Fenaj e Embaixada dos EUA no Brasil, nos últimos anos, mostram o quanto o tema violência preocupa a comunidade internacional. https://youtu.be/P-zDuSv_jSI


Fundamentalismo religioso e política
“O que eu quis dizer com essa pergunta é que não gostaríamos de ver sangue nas ruas numa eventual derrota, mas que o presidente também aceitasse, se perder a eleição, como uma vontade de Deus e não porque a culpa é minha, do jornalista, ou de qualquer outra pessoa e muito menos das urnas”. Galhardo destacou, ainda, que o fenômeno do fundamentalismo religioso é outro agravante que se incorporou na política nacional, estimulando ainda mais a violência contra jornalistas.
As ameaças e agressões do gênero também motivaram um trabalho acadêmico, em 2021, apresentado pelos formandos do curso de Jornalismo da Universidade de Sorocaba (Uniso). O caso de Galhardo foi abordado pelos estudantes Gabriela Couto, Handerson Soares e Yasmin Oliveira. Eles criaram um podcast especial sobre o assunto e que pode ser acessado, no link: https://open.spotify.com/episode/3dOaZRFHbj2nhE09zut5fU?si=EPu2OovdQRmkjN0pU67Bwg&utm_source=whatsapp&nd=1
A entrevista completa de Felipe e Galhardo pode ser assistida no canal no Youtube do programa Insenso, 102 da Band FM, no link: https://www.youtube.com/watch?v=2jP-7yyZem4
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